domingo, 26 de setembro de 2010

Estamos em obra

Você tá aí, João?

Nem sei se é pra você mesmo que quero dizer essas coisas, mas parece que sim. É que você sempre foi de ouvir o que eu inventava de dizer. Ainda que quieto, você tava aqui, João. E eu podia continuar dizendo e você ouvindo. Por que foi que a gente quis inverter as coisas, ahn? Dava tão certo, não dava? Por que foi que a gente quis achar que não dava? Quando é que foi isso, que nem lembro mais?

Tenho estudado tanto, João. Me deram um livro da Lógica das Paixões. E é um livro todo, bem escritinho, pra dizer no fim que paixão não tem muita lógica mesmo. "Como queríamos demonstrar", diria um velho amigo. (E você, velho amigo, onde estará?).

Você perdeu o fio da meada. Não viu esses buracos todos sendo abertos. Parece até buraco da Prefeitura, João. Não fecha nunca mais. Estamos em obra...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Pra amiga saber.

Acordo apressada, não sei que dia é. No meu despertador toca But Not For Me para eu discordar logo cedo. Eu disse discordar? Ato falho amigo, esse. Queria dizer acordar. Leio o jornal com total desinteresse porque penso de novo em Dindí, que foi embora. Parece que faz é tempo. É assustador como aos pouquinhos a gente esquece a dor. E então já não parece verdade, mas eu sei que era. Penso então que poderia escrever um manual para essas ocasiões em que se deve esquecer. Começaria assim: ao acordar, ouça música. Antes de dormir, assista Jules e Julia tomando um bom vinho. E faça, a partir de hoje, valer a campanha "Tenha um pequeno prazer por dia".

Prazer número 01 do dia: Brigadeiro depois do almoço.

(Nota importante: nunca, nunca questionar o prazer do dia).

Prazer número 02 do dia: Telefonema inesperado no fim da noite.

(Nota importante número 02: não se assuste se os prazeres começarem a vir em pares).

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Nada

Não sai nada.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Musical V

"Não diga nada
Saiba de tudo
Fique calada
Me deixe mudo
Seja no canto, seja no centro
Fique por fora, fique por dentro
Seja o avesso, seja a metade
Se for começo fique a vontade
Não me pergunte, não me responda
Não me procure, e não se esconda..."

domingo, 12 de setembro de 2010

Como um samba de adeus

Ela continua vindo até mim. Ainda não sei o que faz com que venha sem parar. Não se atrasa nunca. Disse, da última vez, que não falaria mais nada daquilo. Que botou uma pedra em cima e pronto, acabou. E eu, que acho que também já não queria mais ouvir aquele falatório, old bavardage, coisa e tal, mantive um silêncio curioso. Ela e eu sabemos que algo mudou. Não que os fatos tenham perdido a importância...não é disso que ela fala. É que desde a nossa última vez muitas coisas aconteceram por lá. Encontros, reencontros, desencontros. Novos desencontros. Os mesmos desencontros. Despedidas. Velhas despedidas. As mesmas despedidas. Ela se lembra de ter me dito que não entendia como alguém que foi embora podia ainda permanecer tão próximo e que só agora pode me explicar que era ela quem permanecia. Faz sentido? (Ela descobriu uma maniazinha de permanecer demais).

Agora não ouve mais Bossa Nova. Não lhe cai muito bem. Deixa Dindí ir embora, se é o que Dindí quer fazer. Daqui pra frente ela é toda samba. Como um samba de adeus.

Como nunca mais, eu penso
Como um samba de adeus
Com que jeito acenar
O meu lenço
Branco
Quanto tempo
Pode durar um espanto...

sábado, 11 de setembro de 2010

desistir ou insistir?

Por Ana Laura Nahas

Como saber sobre a hora de desistir? Até que ponto é preciso ir para se convencer de que melhor deixar pra lá, fechar a porta, largar o osso, encerrar o expediente, dizer não sem voltar atrás? Como, ao contrário, acreditar que ainda deve tentar, pedir de novo apesar das recusas, sonhar de novo apesar das expectativas desfeitas, voar de novo apesar das quedas? Quando as possibilidades acabam e as insistências deixam de ser razoáveis para virar loucura? Em que dia, em que endereço, no meio de um almoço à beira-mar ou na volta do trabalho, enquanto cozinha ou na hora do banho, quando como onde por que a gente descobre, simplesmente, que não pode mais?

A geografia (ou vai ver é a publicidade) diz que a gente não deve desistir nunca, alegria apesar das adversidades, samba apesar da tristeza, otimismo apesar do salário mínimo, futebol apesar das perdas, carnaval sempre que possível, sorrisão, jeitinho, ginga e movimento apesar dos pesares, antropólogos, psicólogos, cientistas políticos e sociólogos reunidos em torno da mesa para estudar o significado de ser brasileiro e a descoberta de que brasileiro não desiste nunca.

A música diz coisa parecida, que não tem cabimento entregar o jogo no primeiro tempo, enquanto a gramática determina que desistir é um verbo regular, oito letras, três sílabas e a grafia ritsised quando posto ao contrário. A química tem lá, listadinhos, os hormônios que explicam o desânimo, quantidades, sintomas e riscos de seus excessos e de suas faltas, enquanto, para os Salmos, os Coríntios e o Evangelho de João, desistir significa perder o melhor que Deus tem para oferecer.

Como saber, então, sobre a hora de desistir? Até que ponto é preciso ir para se convencer de que já deu, o caldo entornou, a paciência acabou, a fonte secou, o tempo esgotou? Como, ao contrário, acreditar que ainda compensa, dançar ainda apesar dos tropeços, gostar ainda apesar das faltas, perdoar ainda apesar das descrenças? Quando as chances acabam e esperanças deixam de ser razoáveis para virar estupidez? Em que idade, em que cidade e em qual estação, na sala de estar ou na varanda, no feriado ou na reunião, a gente descobre, simplesmente, que não consegue mais?

Como saber, então, se é coragem ou covardia desistir de uma história, de um encontro, de um amor que não responde ao seu? Como saber se o cérebro tem razão ou quem diz certo é o coração, fica mais um pouco, insiste mais um pouco, tenta mais um pouco ou o contrário, enterra história, encontro, amor e amigo dentro da gente (embora, para o resto do mundo, eles continuem vivinhos da silva), chora e segue? Até quando é possível recomeçar, de outro jeito, com outro espírito, ou quando não, não tem conserto, não tem conversa, não tem perdão?

Em que momento, no quarto ou no terceiro andar, durante a madrugada ou cedinho, quando o sol ainda nem apareceu, enquanto pedala ou no almoço de domingo, quando como onde por que a gente descobre, simplesmente, que acabou? Acabou como o pote de Nutella ontem (delícia), como a energia naquela tarde de chuva, como as esperanças dos torcedores daquele time, como o espaço deste texto, à espera de respostas, e ainda sem certezas.

(Quem souber a resposta levanta a mão).

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Caladora

Vaca amarela,
Pulou a janela
Quem falar primeiro...


(Já aí via-se que falar não era bom negócio...)

sábado, 4 de setembro de 2010

Dizedora

João,

Você me desculpe essa mania de sabedora, dizedora e às vezes até ditadora. É que me fiz assim pra tapar uns buracos. São muitos buracos, João. E quando a gente tem explicação pra tudo e fala tudo, fica mais fácil não ver o rombo. Não gosto da palavra rombo. Sabe o que rombo, no fim das contas, quer dizer? É "Pancada de que resulta furo". É muita pancada também, João. Tô cansada das pancadas (e dos furos).

Mas agora é hora de suportar os furos - não as pancadas.

E não venha me dizer que você não tem furos, João. Eu sei de vários. E não é bonito que, para dar conta dos seus, em vez de dizedor você seja calador?
É cala-a-dor, João?
Fala, João...


quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Assim, assim

Segue a vida
sem mais perguntas...