quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Torpedo

Ele se assustou quando soou o alarme de mensagem no celular e o nome que aparecia era o dela porque pensava ainda há pouco que o sinal de telefonia anda uma bosta em toda a cidade e que se alguém tentasse se comunicar, fosse a mãe dizendo que deixou a sopa pronta na geladeira, fosse uma emergência do trabalho, ninguém o encontraria. Pensou ainda que nos nossos tempos dá uma angústia ficar incomunicável e que nem se lembra de como era quando as pessoas esperavam o fim do dia para saber as novidades. Não que o jornal das oito fosse menos parcial naquela época, mas é que as pessoas conversaram mais e direito e por acúmulo. Assim as informações eram mais concisas e importantes. Agora, que todos mandam torpedos, etc, a todo instante, nada é novo. Até quando acorda seu celular já recebeu as novidades da noite. Nem precisa chegar no trabalho ou encontrar um amigo na hora do almoço. 

Mas nesse dia, que a mensagem era dela e num momento em que ele jurava que ela estaria dormindo ou, se não estivesse dormindo, que estivesse bem divertida em uma festa pouco divertida da cidade, ficou surpreso. Acho que gostou um pouquinho da surpresa, porque fazia tempo que isso não acontecia. A frase dela veio meio cortada, indicando que ela pudesse estar um pouquinho bêbada ou que o sinal de telefonia continuava uma bosta. Mas a frase seguinte, mesmo sem pé nem cabeça, talvez dissesse pra ele que ela ainda pensava nele mesmo enquanto se divertia nas festas da cidade, que podia até ter conhecido alguém simpático mas que gostaria que ele estivesse ali pra entender aquela tirada espirituosa que ela sempre tinha quando bebia, que ela sentia ciúme do que ele pudesse estar fazendo longe dela e que queria só ser lembrada e testar se teria resposta.
Era isso ou ela estava bêbada.
Ou a telefonia anda uma bosta.