domingo, 30 de outubro de 2011

Você é domingo

Retomo o velho texto pra te mostrar que ainda sei de coeur.
Você vem com essa mania de achar que conhece as letras e repete, palavra por palavra, um discurso que nem é seu. Previsivelmente, coloca os pontos onde sempre estiveram e eu, reticente, interrogo e interrogo mais. Abuso do querer saber. Na página sete já estava a história toda. Escrevo pra passar o tempo, mas poderia dizer assim:

Hoje acordei cedo e nem precisava. Levantei depressa porque quis ver o dia. Fazia sol mas o vento estava frio. E o dia já acabou.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Como tatuagem

Mandei tatuar bem forte e em negrito, que é por não confiar na memória e por saber que a felicidade (mas quase disse falicidade) faz a gente pensar diferente.

Escrevi em mais de uma língua, sem erro de sintaxe nem nada, que é pra não ter dúvida.

Botei acentos os mais variados, que é pra dar altura adequada às sílabas que merecem respeito e pra você saber que ali eu gritei mais forte pra você ouvir.

Tatuei também em desenho, que é pra quem não sabe ler não poder dizer o contrário.

Escrevi em letra de fôrma e em letra de mão e em letra de digitado e em arial, times new roman, itálico e sublinhado, que é pra todos os gostos.

Mas tapei com a blusa. Ninguém leu.

sábado, 22 de outubro de 2011

Nota sobre o inesperado n.4

Eu achei que seria muito difícil voltar a sentir aquelas coisas.
Depois, achei que eu fazia ser muito difícil voltar a sentir aquelas coisas.
Então descobri que não: é mesmo difícil.

Taí o inesperado.

sábado, 15 de outubro de 2011

Nota sobre o inesperado n.3

Eu comecei uma conversa à toa, só pra sair de um silêncio de um dia inteiro, mas sem querer (querendo) eu perguntei sobre o mundo e as coisas do mundo e os deuses. Quis saber se existe mesmo ou se é coisa do homem, achar que tem passado, que tem futuro, que tem vida, que tem planos, que tem afetos. Nunca tinha perguntado assim. Acho que estava precisando acreditar.

domingo, 9 de outubro de 2011

Nota sobre o inesperado n.2

Tocava uma música alta que eu não sabia cantar. De repente aparecia você, fantasiado de bom moço, cheio de amigos imaginários, mirando alguma coisa atrás de mim e sorrindo como quem consente. Quis olhar para trás, mas não. Aqui está o inesperado.

sábado, 8 de outubro de 2011

Nota sobre o inesperado n.1

Seguia pela Avenida Nossa Senhora da Penha e marcava no relógio bem o meio do dia. Havia sol. As pessoas andavam tão depressa que não notavam a surrealidade que era aquilo: bolhas de sabão tomando o ar, como se fossem pássaros, numa incrível dança. Algumas entravam no carro, fazendo motoristas atentos se desconcentrarem do trânsito por um instante, enquanto outras desciam depressa e se arrastavam na beira do chão, trombando com o calor até o estouro.