domingo, 30 de maio de 2010

Musical II

"Não deixe idéia de não ou talvez
Que talvez atrapalha..."

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Sonho 01

Estava como em um filme cujo fim é conhecido (devo dizer que por aqui é bem comum e típico de mim sonhar com roteiros de filme). Morria de medo de uma certa multidão que vinha da rua, invadindo as casas, em busca de sei lá o que. Minha casa era a próxima, mas eu sabia o que tinha que fazer, já tinha visto o filme. Por um instante, deixei-me levar pelo medo e tentei me esconder. Escondida, lembrei-me de que era inútil. Eles me encontrariam. A casa, que era minha, não reconheci. Onde estaria? Mas o esconderijo, sei bem onde era: Cozinha de vovó, 1999, Santa Maria de Jetibá. (Naquela época, ir a Santa Maria era como tirar férias de mim. Porque lá eu achava que podia ser quem eu escolhesse ser. Lá eu era forasteira.)

Ai, que multidão que me invade.
Minha casa é a próxima.
Conheço esse filme.
Sei o que tenho que fazer.

E uma vontade de ser forasteira...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Ditos não ditos.

Dizia que só há amor excessivo diante das maiores crises e que às vezes é preciso quase perder com uma certa freqüência para que não se queira perder nunca; que é absolutamente impossível saber (e, portanto, dizer) a medida exata do amor; que é impossível acertar a hora de dedicar-se exclusivamente e a hora de desviar o olhar para que se seja visto; que ainda que se tenha certeza de que há amor, que pode não durar. Ainda que tudo isso seja um fato, ainda assim são necessárias muitas palavras para preencher o vazio estalante e aflito das grandes esperas.
Ainda que haja a solidão (e sempre haverá), talvez não seja preciso padecer do gozo da incompreensão. Talvez seja possível compartilhar também as sensações indescritíveis. Talvez não dizer tudo e, ainda assim, contentar-se. Assim como há palavras que nos marcam a carne e nos fazem acreditar que estarão lá para sempre, dizendo quem somos, é possível mudar uma sílaba de lugar e ter um novo sentido para o dito. É possível que digam apenas quem fomos.
Sim, é possível viver mais sem descrever tanto a vida.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Question


All Is Fair In Love and War. (?)


quinta-feira, 20 de maio de 2010

Tapa-buraco

Eu disse, não disse?

Que você não tivesse tanto medo de perder e que se arriscasse um pouco, deixando faltar. Faltar ao encontro, faltar um olhar, faltar atenção até. Mas você entrou nessa de achar insuportáveis os buracos e saiu cobrindo todos. Cobria as minúsculas fendas com seu tédio, com a sua preguiça de pequenas brigas. Você se lembra de dizer que não tinha paciência para grandes reclames? Que distraía os anúncios de grandes revoluções e despistava...indicava o caminho contrário para dissipar o motim. Aposto que achava que assim tudo ficaria bem. E entendo. Mas você viu agora que não era assim? Que você achava que afastaria a confusão, mas era você quem saía da rota? Você viu agora que querendo calma a gente só recebe turbilhão?

Só turbilhão.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Equilibrista

"Tem de ser equilibrista até o final. E suando muito, apertando o cabo da sombrinha aberta, com medo de cair, olhando a distância do arame ainda a percorrer - e sempre exibindo para o público um falso sorriso de serenidade. Tem de fazer isso todos os dias, para os outros como se na vida você não tivesse feito outra coisa, para você como se fosse a primeira vez, e a mais perigosa, do contrário seu número será um fracasso."


SABINO, Fernando, LISPECTOR, Clarice. Cartas perto do coração. 6a ed. Rio de Janeiro, São Paulo: Editora Record, 2007. p.28.

domingo, 16 de maio de 2010

Old Buddy

Não sei de onde surgiu a idéia de ter um cachorro. Ter um cachorro não deve nunca ser uma idéia. Deve ser uma decisão. Malu foi a última a aparecer entre seus irmãos. Ao contrário deles, que pareciam lutar entre si para ver quem seria escolhido, Malu foi trazida no colo porque era assim, de ficar quieta. Diziam que ali tinham que dar uma atenção maior para ela, porque na disputa por comida ela perdia sempre. Era a última a comer, por vezes ficando sem. Eu peguei Malu no colo e na viagem para casa íamos aos poucos nos adotando. Porque dizem que é o cão que escolhe os donos.
Nos primeiros dias, a preocupação com o sono excessivo de Malu. Era como um brinquedo sem pilha, nos deixando ávidos pela vivacidade que só um filhote pode ter. Depois, com o despertar, veio a vivacidade excessiva. Das corridas pela casa, das mordidas acidentais e intencionais, do sofá destruído (e, junto com ele, rodapés e armários).
Eu sempre achei que Malu precisava era de tempo. E que ela aprenderia o que fosse ensinado e respeitaria as regras mais importantes. E teria menos fome também. Mas o tempo de Malu acabou sem que ela tenha tido a chance de fazer com que, apesar das mordidas, a gente gostasse de como ela festejava a nossa chegada.

Eu ainda sinto falta de Malu. E de vez em quando eu juro que me pego pensando em se ela já não é mais a última a comer.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Amigos

Por generosidade (ou porque sabe) ela me disse que a dor passa. Eu, que sempre hesitei diante da generosidade das pessoas, achei que generosa ela foi me permitindo a descoberta de que eu não poderia nunca, como achava até então, voltar a ser a mesma de antes. "Antes era apenas o tempo". Foi assim que ela me lembrou de que o tempo não tem essência e me livrou do terror de tudo que representava o fato de eu me sentir ali, de volta a um estágio anterior.

É verdade, tenho reencontrado bons amigos. Chamo de bons os amigos que dizem verdades de forma acolhedora. Diga se não parece uma delicadeza imensa a revelação de que as lembranças são todas inventadas? Eu acho. E, apesar de malcriadamente não ter dito isso para ela, eu também acredito na possibilidade de que as lembranças passem a só ferir um pedacinho ínfimo de nosso corpo. "Ferida acostumada".

Ternura sempre.

domingo, 9 de maio de 2010

Coisa de mãe

Tenho uma lembrança de quando era muito pequena e tentei abraçá-la apertado, para que ela não me deixasse nunca. Ela reclamou do aperto e se afastou achando ser uma brincadeira nova. Passei a acreditar que não se deve nunca esperar que o amor venha da mesma maneira e tamanho, porque não vem. E que demonstrações súbitas de amor devem ser cautelosas. Por muitos anos, ela nem sabe, eu achei que era falta de amor. Eu não conseguia acreditar em quanto amor podia conter um gesto simples como me esperar chegar de uma festa ou preparar um doce antes de dormir só porque eu estava com vontade, mesmo que estivesse exausta. Hoje, que eu preparo doces para as pessoas queridas, sei o quanto custa ir para o fogão em um dia de preguiça. E que, não fosse o amor, seríamos todos mais magros.

Demorei a entender que quando estou triste é difícil para ela dizer que fica triste também, mas que quer dizer isso quando franze o cenho, diz que não estou comendo nada, finge que não notou meus olhos vermelhos e me passa a barra de chocolate.

É coisa de mãe.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Musical

"Foge-me a inspiração
Sinto a alma deserta..."

Cartola.

domingo, 2 de maio de 2010

Nonsense.

O telefone toca no início da tarde e ela avisa que já está por perto. É o que me agrada nela, essa coisa de não planejar tanto. Praia cheia, uma conversa boa que nos faz caminhar livremente, sem olhar o caminho. Eu digo sempre que ela tem o espírito livre, mesmo sem saber se um espírito pode ser livre ou preso. Se puder, sei que o meu é preso. Tenho certeza. Andamos e chegamos ao fim da linha, mas nossa conversa nos mostra que a linha não tem fim. Ela me conta das suas descobertas filosóficas e espirituais. (Pra mim, são mais filosóficas do que espirituais, mas é por causa do espírito preso de novo).
Me encanta a certeza que ela traz de que viver não deve ser só isso e eu quero essa certeza para mim, inteirinha. Ela ouve minhas dúvidas, que eu mal sei elaborar, e me diz que se eu ainda não tenho respostas, é por não estar preparada para elas.

São as conversas nonsense mais deliciosas.