Pode ser que eu esteja falando cedo demais, mas eu duvido que as bailarinas de Degas esperassem tanto. Aposto que com elas era diferente e que quando entravam no palco, nem saltitavam tanto porque naquela época o Bolshoi já tinha revolucionando a arte do dançar e todos sabiam que um bom balé se faz com delicadeza.
Eu suponho que no fim do primeiro ato as bailarinas de Degas já contavam com flores espalhadas por todo o camarim. E sabiam que seriam esperadas em todas as portas do teatro e dos pequenos anfiteatros e nos fundos dos calabouços e inferninhos da época. Não por serem bailarinas, simplesmente. Mas porque tinham uma beleza inesperada e porque enquanto dançavam não olhavam para os lados. Rodopiavam quando a melodia ficava mais intensa e fingiam que não estavam sendo vistas.
E fingir que não eram vistas era tudo o que deviam fazer para que a platéia inteira, mulheres, homens, senhores acompanhados e crianças de colo, todos olhassem mais e mais e mais, tentando flagrar uma bailarina distraída que voltasse seus olhos para os olhos de alguém e sorrisse sem querer ou errasse o passo por descuido e desatenção.