sexta-feira, 6 de junho de 2014

Carla,

De palavra em palavra, nascem entre elas mil segredos. Coisas indiscutíveis ou duvidáveis - acho que são sinônimos. A dúvida serve para interrogar e gerar mais palavras. E mais dúvidas. Não sei aonde chegaremos, mas o que importa é caminhar. Tenho horror ao que paralisa. Tanto horror que me antecipo a todo instante. Sou precoce. Adianto o tempo e envelheço logo, que é pra não ter surpresa. Quanta incoerência, adoro surpresa. (...)
Sinto que tenho um propósito cada vez que ouço uma dor. De cara, meu propósito é ouvir e só. Interrogo pra ver o que sai. Me esforço pra ouvir até quem não quer falar. Sobretudo quem não quer falar. Tenho falado pouco e escrito menos, não sei bem a quem dizer. Descobertos os segredos, o que resta de nós?

Estou apaixonada pelos livros de receita. Aprendi que existe uma técnica para se cortar gomos sem que despedacem e que tudo fica lindo e aromático quando se fala em gomos. Compreendendo o que são 2/4 de xícara, tudo dá certo. Com a dosagem certa de amor e um alho fresco, não há receita que não funcione. Até quem não gosta, come com os olhos. Adoro essas expressões.

Tenho descoberto que cuidar de uma casa te ensina a cuidar de todas as relações. Ajuda no trabalho, se aprender sobre prazos e das combinações (das contas, dos alimentos). Ajuda no amor, se aprender a inovar quando enjoar e a repetir o que funciona. Perceba que essas coisas oscilam bastante. Na família, se trouxer com você o que já aprenderam e te ensinaram durante toda a vida. A sabedoria se reconhece no primeiro apuro. Nas amizades, que precisam de cuidado, podem esperar e todas as outras lições alternadas.

Se quer uma dica, banho-maria.
Os melhores doces partem daí.

Um beijo.
Fernanda.