terça-feira, 26 de julho de 2011

alive, vivo, muito vivo

Ela queria saber se a vida continua de verdade depois que se perde um grande amor. Ela queria saber de curiosa que é, porque não está nem em situação de sofrer nem em situação de se solidarizar com a vida dos outros. Mas também não é tonta, não é menina. Sabe bem que a vida é que nem maré, que vira de tempos em tempos. Sabe bem que pra ficar triste basta estar feliz demais, assim como pra morrer basta estar vivo. E o que faz a gente vivo é esse feliz-infeliz que a gente é obrigado a aguentar até...até sempre.

Então ela achava meio indelicadeza da parte dela me perguntar assim, sem pedir licença, se há vida pós-amor. E eu olhei aqueles olhos me mirando e sabia que ela tinha medo de ficar só. Ela tinha medo da miséria da solidão, como todo mundo no fundo tem. Eu me antecipei, porque se tem uma coisa que sei fazer bem é me antecipar, e falei que a gente vive, vive, vive e vive sempre. A gente, que não é dada a morrer, claro. A gente até quer só dormir pra sempre, mas vem a manhã e o sol esquenta a janela e a gente acorda. Se a gente acorda, é porque tem vida, sabe como? Se a gente acorda, é porque o corpo tá vivo e funciona, e a bexiga enche, dá uma coceira no pé ou uma vontade de estalar as costas. Não tem outro jeito. A gente levanta da cama e a vida continua. A gente que é dada a viver, claro. Porque tem gente pra tudo. Mas a gente, que é dada a viver, pega a solidão no laço e com a pontinha escreve um poema bem bobo, pra passar o tempo. A gente chora, é verdade, mas se a gente chora é porque o corpo tá vivo também. Pergunta lá pro perneta se ele não dava tudo pra sentir a perna perdida doer de novo?

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Musical IX

Seja razoável
E não me apresente mais uma versão
Se é da boca pra fora ou do coração
Tuas histórias já não merecem perdão...

domingo, 17 de julho de 2011

Se essa rua, se essa rua..

No bilhete que ele me deixou, descreveu com todo cuidado o caminho (long long way) que escolheu pra chegar onde está agora. Disse que costumava pegar uma rua nas outras idas, uma mesma rua, porque sempre alguém dizia que era por onde devia andar. Ele não conhecia outros atalhos, mas metia na cabeça que precisava escolher, que ele precisava escolher, que era demais pra um homem ouvir uma mulher dizer por onde ir. Ele não sabia se a rua nova era perigosa, se era mais bonita, mas decidiu ir por ali. Decidindo ir por ali, passou a gostar de dizer que decidia as coisas, e decidiu que a mulher não podia ir junto.

(Ele sabe, diz o bilhete, que ele e a mulher chegaram no mesmo lugar. Ele por ali, ela por lá. Ele sabe também que era ele quem não olhava pra depois da curva e que ela gostaria às vezes de ter sido levada em vez de ter sempre que guiar).

O resto, vocês sabem...
Quando o caminho é desconhecido, às vezes a gente se perde...