sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Milonga

Está fazendo um ano e meio, amor, e você age como se não. Depois do meu telegrama lembrando do nome da casa de câmbio mais honesta e de como se pronuncia chorizo, para que não haja erro nem aconteça de vir um bife bem passado qualquer, não sei o que aconteceu, de voltar a junho ou talvez um pouco antes porque em junho tudo já estava com ares de fim, voltar a antes de junho quando te ocorria durante uma viagem lembrar-se de mim diante de um Picasso legítimo e trazer-me uma réplica  - que emoldurei e pendurei na sala. Dessa vez é Frida Kahlo, talvez o quadro do aborto, talvez o do seu casamento com Diego Rivera (que também não deu em nada).
Além da Frida, você me vê na Casa Rosada e num cachafaz barato (e veremos se continua bom). De longe, permito que você se lembre de mim com saudades. Você ainda não percebeu que falta tem sentido de manter-me informada dos seus passos. Acompanho atenta pra saber quais serão os próximos, se descerão na minha rua ou correrão pra longe.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

José,

Deixei pra te ligar outro dia porque não aguentaria mais um não hoje. Negativas em acúmulo são um tormento e a cada uma delas eu mentalizo um sim bem forte pra ver se cola. José, você não sabe o que é isso. Você nunca se permitiu correr o risco de perder. Pra peder, a gente tem que ter.  Ter alguém é quando a gente diz não mas continua de mãos dadas no escuro. E se tiver de verdade, eu juro que não precisa nem dizer. É no jeito de olhar que se nota. Eu queria que você soubesse o que é isso, José. Faz dó passar uma vida achando que é de sim, quando na verdade é ilusão.

Deixei pra te ligar outro dia porque sei como você reage às minhas ligações.Sei que não sou fácil. Ainda cedo eu falei pra duas ou três pessoas que chega dessa parada de insistir. Mas eu sou fogo, não sou? Eu insisto de novo porque é uma doença, essa mania. Pelo menos dessa vez veio um não disfarçado. Nãos disfarçados são uma delicadeza.