segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Judith,

Eu queria poder dizer que tudo mudou, mas as ilusões e desilusões são as mesmas. Diante da vida, pra quem não é desistente, resta aguentar. 

Você me pergunta, mas sabe o quanto me custa sentir as raivas e os ódios e tudo isso que arde nos olhos. Não te respondi, mas elas existem. Eu as escondo (as raivas) até onde posso, numa elegância que corrói o estômago e detona as unhas de todos os dedos. E quando vêm, vêm com a voz tropeçada e a velocidade não acompanha a taquicardia sufocante que já estava lá. Taquicardia sufocante. Juro. E eu deixei de falar, tantas vezes, deixei de falar que não é justo se deixar levar pelo medo. Deixei de falar que não é justo desgostar da gente. Deixei de falar tanta coisa, Judith. Se pondero as palavras, a vontade é de gritar pra que ouçam. Ouçam lá da cozinha, ouçam lá de fora, no outro quarteirão. Deve caber pra quem passa lá longe também, porque a covardia tá na gente toda. 

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