Junto as mãos em concha e, aos olhos de Luísa, viro um Jacaré faminto. No mesmo instante, vem uma mãozinha minúscula, ainda descoordenada, que mal sabe brincar mas já aceita o jogo, dando-se a comer. Sou aí um Jacaré insaciável e divertidíssimo. Os olhinhos (inteiros do pai) se apertam e riem mais do que a boca - puro deleite - até que um estranho qualquer, capturado pela graça espontânea da nossa pequena, roube seu olhar rapidamente. Luísa não perde nada e se faz irresistível nas lojas e restaurantes, deixando sempre as compras e os pratos para depois.
É preciso escrever para que eu me lembre sempre das sutilezas de um amor que, de tão grande, talvez passe a ser banal. (A gente se acostuma e já não se surpreende mais). É preciso também escrever para que mais tarde Luísa saiba como era quando ainda estava virando gente, descobrindo o mundo, tomando para si as nossas (muitas) palavras. Precoce, insiste em manter-se de pé quando ainda não sabe muito bem o que fazer com isso. Tão curiosa, quer aprender tudo! Fixa os olhinhos na novidade e quase posso enxergar milhões de conexões neuronais acontecendo ali.
Para uma criança que quer tanto viver, a cada semana são muitas conquistas e eu, a tia superocupada, ao fim delas (das semanas, não das conquistas), perdi um tanto. A fruta preferida já não é mais, descobriu um desenho mais interessante, que só não ganha do cangote do pai, a avó arquitetou uma nova posição para ninar e veja bem como o repertório musical de sua mãe cresceu!
Dorme, Luísa, dorme sossegada, que amanhã a dona aranha ainda subirá pela parede, a casa continuará infestada (da) de florzinha e olha o rouxinol rimando outra vez!
Cresce, Luísa, mas cresce devagar que é pra caber no colo mais tempo, pra ser criança mais tempo, pra querer sempre mais.
Voa, Luísa, que o mundo é grande...