quinta-feira, 13 de abril de 2017

Aos olhos de Luísa

Junto as mãos em concha e, aos olhos de Luísa, viro um Jacaré faminto. No mesmo instante, vem uma mãozinha minúscula, ainda descoordenada, que mal sabe brincar mas já aceita o jogo, dando-se a comer. Sou aí um Jacaré insaciável e divertidíssimo. Os olhinhos (inteiros do pai) se apertam e riem mais do que a boca - puro deleite - até que um estranho qualquer, capturado pela graça espontânea da nossa pequena, roube seu olhar rapidamente. Luísa não perde nada e se faz irresistível nas lojas e restaurantes, deixando sempre as compras e os pratos para depois.

É preciso escrever para que eu me lembre sempre das sutilezas de um amor que, de tão grande, talvez passe a ser banal. (A gente se acostuma e já não se surpreende mais). É preciso também escrever para que mais tarde Luísa saiba como era quando ainda estava virando gente, descobrindo o mundo, tomando para si as nossas (muitas) palavras. Precoce, insiste em manter-se de pé quando ainda não sabe muito bem o que fazer com isso. Tão curiosa, quer aprender tudo! Fixa os olhinhos na novidade e quase posso enxergar milhões de conexões neuronais acontecendo ali.

Para uma criança que quer tanto viver, a cada semana são muitas conquistas e eu, a tia superocupada, ao fim delas (das semanas, não das conquistas), perdi um tanto. A fruta preferida já não é mais, descobriu um desenho mais interessante, que só não ganha do cangote do pai, a avó arquitetou uma nova posição para ninar e veja bem como o repertório musical de sua mãe cresceu!

Dorme, Luísa, dorme sossegada, que amanhã a dona aranha ainda subirá pela parede, a casa continuará infestada (da) de florzinha e olha o rouxinol rimando outra vez!

Cresce, Luísa, mas cresce devagar que é pra caber no colo mais tempo, pra ser criança mais tempo, pra querer sempre mais.

Voa, Luísa, que o mundo é grande...