domingo, 29 de agosto de 2010

Desterro


"olha meu amor eu estou voltando
é tão bom chegar, e eu estou chegando
quero te contar que me arrependi
quero te mostrar o quanto sofri

mas valeu a pena esse meu desterro
hoje eu descobri, descobri meu erro
descobri que a vida começa aqui..."

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Cartas

(...)

Você me dizia para perder essa mania de querer saber de tudo e que o encanto da vida estava nas pequenas descobertas (das quais só nos damos conta quando já estão conosco faz tempo). Nossasenhora, como eu demorei para acreditar que é mesmo a gente que não se deixa surpreender. A gente corre apressado na frente, adivinhando tudo o que vem. E depois reclama de só receber mais do mesmo.

Os dias aqui são dias de incerteza. Você não imagina como me pega em cheio (ainda não aprendi a usar essas expressões) esse mistério das coisas, mas eu confesso que até tenho gostado de não saber. Tenho praticado bastante esse negócio de não saber. Acho que é virtude das grandes a gente ter calma e não se precipitar. Você não acha? Te falei de Maria? Maria vai sempre com calma. Ela me diz que não preciso correr, que o mundo não vai acabar. É mania dela dizer isso. É claro que o mundo vai acabar, não viu na tv? Mas a gente vai com calma porque mesmo que acabe, não tem jeito. Acaba e ponto.

E é assim, como Maria, que tenho andado. Você não vai acreditar que eu consiga, eu sei, andar com calma e não saber das coisas. Mas eu consigo, ó. Porque se o mundo não acabar, o que vier virá e ponto.

Vamos ver no que dá...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Avisa, Maria

Maria,

Avisa pro príncipe que a gente beija o sapo uma, duas vezes. Ele vira príncipe de novo, sabe? Mas numa terceira vez eu acho que não tem feitiço que dê conta...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Pra João saber

João,

Fica com medo, não, João.
Que a vida é assim, desassossego...

domingo, 15 de agosto de 2010

Peter pan

João é meu amigo, mas não vale nada. Mentira, coitado. Até que é bom rapaz, mas tá perdido na vida. Acha que é homem novo, que tem que curtir, bla bla bla, mas em off (para que os amigos não saibam), vive me dizendo que tem medo de encarar de frente que o tempo chegou. O tempo é como ele chama essa fase da vida em que grandes decisões precisam ser tomadas. Digo a João que tem gente que passa a vida inteira sem tomar grandes decisões, mas que ainda assim a decisão está tomada. Com isso, quero dizer a ele que é inevitável que escolhas sejam feitas.

Acho que não é coisa só do João, porque tenho visto muita gente assim, vivendo sem querer perder nada. Quem não fala nem em off, acha que está diferente mas não está. Já vi gente sabotar grandes oportunidades só para não ascender. Não tem como. A gente sempre perde alguma coisa. Perder também é ganhar.

Deixa disso, João.
Vê se cresce.

sábado, 14 de agosto de 2010

terça-feira, 10 de agosto de 2010

De perto

É quase sempre na presença dela que as coisas mais metafísicas acontecem. Antes ela me surpreendia com aqueles telefonemas de meio de tarde, convidando pra caminhar à toa, pela vida. Da última vez pensávamos ir à Jardim Camburi. Mas só pensamos, nunca vamos até lá. Acho que é só pra fingir um destino, como sempre. E nos permitimos um desvio aqui, outro ali, mudando o rumo da caminhada.

O último convite foi para olhar o céu de mais perto. Quem sabe acima das nuvens? A caminhada, como sempre, longa. Cheia de pedras no caminho. Metafórica até dizer chega. Cogitamos desistir, mas não somos disso. Eu acho que não somos. Nunca fomos. Algumas pequenas descobertas, algumas grandes sensações e a exaustão total. Mas voltamos, inteiras.

É assim que deve ser.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Pode entrar

A minha música não é de
Levantar poeira
Mas pode entrar no barracão...

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Cartas

(...)

Por aqui reinam as inquietações. Jurava que conseguiria aos poucos parar de te falar das minhas inquietações, mas elas não param também. Chateio você, eu sei. Mas acho que é só você quem pode receber minhas inquietações assim, envelopadas. Pouca gente suportaria uma vida de inquietações.

Pois bem. Imagino que queira saber quais as últimas decisões. Antes preciso avisar que a nossa última conversa não me caiu muito bem. O que quer dizer com aquela história de me ocupar dos estudos e do trabalho, "coisas das quais gosto"? Saiba você que eu gosto de muitas outras coisas. Achei de um mau gosto tremendo você sugerir que me ocupe do trabalho e dos estudos quando sabe perfeitamente que espécie de coisa tem ocupado a mim e aos meus pensamentos. Por acaso você finge que todo o resto tem menos importância? Fazendo assim parece que não ouviu uma só palavra do que tenho dito. Você quer saber das últimas decisões, mas sabe bem que não é de decidir o momento. Não estou em posição de decidir. Já falei. Estou em posição de aguardar. E de me permitir as mais pequenas sensações, como diz o poeta, pra ver se a vida é assim, de intensidades.

Escrevi para te dizer apenas isto: que estou querendo saber se a vida é de intensidades.

domingo, 1 de agosto de 2010

Algumas coisas não mudam

Algumas memórias da infância podem facilmente dizer quem é você. Ok, Dr.Freud, isso é óbvio. O que eu tento dizer é que algumas cenas já deixavam nítida, pra quem quisesse ver, toda a futura trajetória daquele ser. E que bastava alguém atento para apontar essas coisas já lá, no início, e muita coisa também poderia ter sido evitada.

Mas para não dizer do trágico, vamos ao cômico. Três cenas que são clássicas na história dessa senhorinha que vos fala:

Cena 1. : Existia uma coleguinha de prédio que apanhava de todo mundo. Apanhava sobretudo da mãe, e hoje imagino que isso criava nela uma coisa que acabava fazendo com que todos os coleguinhas fizessem o mesmo. Eu, claro, protegia minha coleguinha de todos. Não deixava que ninguém maltratasse a pobrezinha. E depois, dava uns cascudos pra ver se ela reagia e aprendia a se defender.

Cena 2.: Fazia jazz na escola. Coisa bonita de ver, com polainas e colans e tudo a que tinha direito. Dançava legalzinho, a professora me colocou na frente na hora da apresentação e, claro, não fui à apresentação. O mesmo aconteceu quando escalada para cantar em francês. Pobres professoras.

Cena 3.: Brincava de escolher qual seria o humor do dia. Ao acordar, dizia que seria um dia muito feliz e de ser muito simpática com as pessoas. No meio do caminho, claro, me aborrecia e dizia que seria um dia de ser antipática mesmo. Fazer o quê?