segunda-feira, 11 de junho de 2012

Vermelho

Nem todo vermelho é de sangue.
E eu digo porque sei. E eu sei porque vi outro dia o vermelho nos cachos de uma moça que flutuava ao andar. Arrastava um balanço despercebido e pensava em tantos outros tons que não viu que do lado dela o senhor de paletó fez que ia atravessar quando o sinal ficou vermelho para ele e verde para os outros. Recuou depressa, meio trôpego, risonho e envergonhado - porque o recuo pareceu-lhe, por um instante, uma espécie de dança.
Mais à frente, o cachorro botava a cabeça para fora da janela e o vento balançava-lhe as orelhas. Abria a boca de um jeito que mais parecia um sorriso. E,virando a esquina, o vendedor de guarda-chuvas gorava o sol com suas superofertas. A precavida senhora de vestido florido comprou a sombrinha mais colorida e fez de bengala porque não cabia na bolsa.Os cachos vermelhos desbotavam de tempos e tempos e eram reafirmados, revivos com a tinta de sempre, misturada com um pouquinho da outra para melhorar o brilho e creme, creme de pentear.

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