sábado, 30 de junho de 2012

As bailarinas de Degas não esperam

Pode ser que eu esteja falando cedo demais, mas eu duvido que as bailarinas de Degas esperassem tanto. Aposto que com elas era diferente e que quando entravam no palco, nem saltitavam tanto porque naquela época o Bolshoi já tinha revolucionando a arte do dançar e todos sabiam que um bom balé se faz com delicadeza. 
Eu suponho que no fim do primeiro ato as bailarinas de Degas já contavam com flores espalhadas por todo o camarim. E sabiam que seriam esperadas em todas as portas do teatro e dos pequenos anfiteatros e nos fundos dos calabouços e inferninhos da época. Não por serem bailarinas, simplesmente. Mas porque tinham uma beleza inesperada e porque enquanto dançavam não olhavam para os lados. Rodopiavam quando a melodia ficava mais intensa e fingiam que não estavam sendo vistas.
E fingir que não eram vistas era tudo o que deviam fazer para que a platéia inteira, mulheres, homens, senhores acompanhados e crianças de colo, todos olhassem mais e mais e mais, tentando flagrar uma bailarina distraída que voltasse seus olhos para os olhos de alguém e sorrisse sem querer ou errasse o passo por descuido e desatenção.


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