sábado, 11 de setembro de 2010

desistir ou insistir?

Por Ana Laura Nahas

Como saber sobre a hora de desistir? Até que ponto é preciso ir para se convencer de que melhor deixar pra lá, fechar a porta, largar o osso, encerrar o expediente, dizer não sem voltar atrás? Como, ao contrário, acreditar que ainda deve tentar, pedir de novo apesar das recusas, sonhar de novo apesar das expectativas desfeitas, voar de novo apesar das quedas? Quando as possibilidades acabam e as insistências deixam de ser razoáveis para virar loucura? Em que dia, em que endereço, no meio de um almoço à beira-mar ou na volta do trabalho, enquanto cozinha ou na hora do banho, quando como onde por que a gente descobre, simplesmente, que não pode mais?

A geografia (ou vai ver é a publicidade) diz que a gente não deve desistir nunca, alegria apesar das adversidades, samba apesar da tristeza, otimismo apesar do salário mínimo, futebol apesar das perdas, carnaval sempre que possível, sorrisão, jeitinho, ginga e movimento apesar dos pesares, antropólogos, psicólogos, cientistas políticos e sociólogos reunidos em torno da mesa para estudar o significado de ser brasileiro e a descoberta de que brasileiro não desiste nunca.

A música diz coisa parecida, que não tem cabimento entregar o jogo no primeiro tempo, enquanto a gramática determina que desistir é um verbo regular, oito letras, três sílabas e a grafia ritsised quando posto ao contrário. A química tem lá, listadinhos, os hormônios que explicam o desânimo, quantidades, sintomas e riscos de seus excessos e de suas faltas, enquanto, para os Salmos, os Coríntios e o Evangelho de João, desistir significa perder o melhor que Deus tem para oferecer.

Como saber, então, sobre a hora de desistir? Até que ponto é preciso ir para se convencer de que já deu, o caldo entornou, a paciência acabou, a fonte secou, o tempo esgotou? Como, ao contrário, acreditar que ainda compensa, dançar ainda apesar dos tropeços, gostar ainda apesar das faltas, perdoar ainda apesar das descrenças? Quando as chances acabam e esperanças deixam de ser razoáveis para virar estupidez? Em que idade, em que cidade e em qual estação, na sala de estar ou na varanda, no feriado ou na reunião, a gente descobre, simplesmente, que não consegue mais?

Como saber, então, se é coragem ou covardia desistir de uma história, de um encontro, de um amor que não responde ao seu? Como saber se o cérebro tem razão ou quem diz certo é o coração, fica mais um pouco, insiste mais um pouco, tenta mais um pouco ou o contrário, enterra história, encontro, amor e amigo dentro da gente (embora, para o resto do mundo, eles continuem vivinhos da silva), chora e segue? Até quando é possível recomeçar, de outro jeito, com outro espírito, ou quando não, não tem conserto, não tem conversa, não tem perdão?

Em que momento, no quarto ou no terceiro andar, durante a madrugada ou cedinho, quando o sol ainda nem apareceu, enquanto pedala ou no almoço de domingo, quando como onde por que a gente descobre, simplesmente, que acabou? Acabou como o pote de Nutella ontem (delícia), como a energia naquela tarde de chuva, como as esperanças dos torcedores daquele time, como o espaço deste texto, à espera de respostas, e ainda sem certezas.

(Quem souber a resposta levanta a mão).

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