terça-feira, 6 de março de 2012

Ela faz cinema

Quando ela chora, não sei se é dos olhos pra fora e não sei do que ri. Faz uma cena de arrancar os cabelos e só eu já vi jurar três vezes que estava morrendo de amor. E estava. Quando ama, gruda aqueles olhos grandes nos olhos do outro, mira bem mirado, mas é pra fazer do outro um espelho. Pede pra abrir mais um pouquinho...e se penteia. Pede pra piscar...passa um batom. Ninguém dirá, entretanto, que não estava ali. É intensa, ama com paixão, odeia sem pudor. Trepa (mas não diria assim). Quer ser amada (mas quem não?). Pinta a pele e desenha no corpo traços que não precisa saber de onde vêm. Uma beleza de Januária na janela (até o mar faz maré cheia pra chegar mais perto dela), e se sabe bela. Atrai, subtrai, trai. Bagunça o coreto e reza em seguida, que é pro caso de não ter perdão.

Convence a gente de dizer, também como espelho, o que é que se passa, afinal. Mas ela sabe que a verdade é sempre meia-verdade. Ela sabe que a gente sempre é e não é. Ela sabe que meus olhos vêem tudo como espelho também, e que eu embaço dia sim, dia sim, pra poder ver só o que quero (suporto, consigo) ver. Sabe que eu invento história pra tornar a vida mais doce e encho o quanto posso as dores de poesia, como forma de bordear bem depressa um furo que eu mesma fiz. (É que não suporto muito os furos). Ela sabe que meu olho também (só) me vê.

Ela faz cinema e escolhe sempre os mesmos papéis, que é pra atuar impecável, com um improviso majestoso, variando dela mesma em múltiplas facetas. Faz seu papel tão direitinho, que a gente toda aplaude de pé e pede bis e entende, finalmente, que ela pode ser mil, mas não existe outra igual...

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