quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Tentando bem muito

Pra que fosse homem meu, meu mesmo, desses que cabem direitinho no figurino, sem precisar afrouxar nem apertar nada, e digo sem precisar afrouxar - mais precisamente -, tinha que falar firme, decidido, mas sem perder a doçura. Tinha que trabalhar duro e gostar bem muito do que faz, trabalhar com gosto, tesão na coisa, mas também não ser escravo. E ser flagrado olhando minhas coxas, deixar escapar uma indecência de repente, mas isso assim, enquanto me escuta falar sobre as impressões que eu tive na décima leitura do Livro do Desassossego. E me escutar falar do meu desassossego e compreender bem tudinho, acrescentar alguns pontos, quem sabe, mas também se entediar e levar um chocolate pra ver se calo de vez a boca em vez de reclamar tanto.

Pra que seja homem meu, desses que eu escolho, tem que falar firme e decidido e não pedir arrego quando eu parecer segura demais. Porque eu seguro a onda de ser isso, mas tô tentando, bem muito, esquecer um pouco a firmeza minha. Eu tô tentando, todo dia, mesmo sabendo a dança inteira, deixar alguém conduzir mansinho e me deixar errar o passo e quem sabe me rodar no meio da pausa e me trazer um susto.

3 comentários:

Nathalia disse...

Eu já acho que a gente é plástico e precisa sempre apertar ou afrouxar um pouquinho pro caminho poder esbarrar no do outro, mas de leve.

Hedwig Marina disse...

Isso é tão lindo, um desejo tão simples e parece até fácil, mas talvez seja igual receita de vó, que parece fácil de fazer, mas na prática a gente nunca acerta, nunca tem aquele primeiro gosto idealizado.

bruno disse...

de vez em quando é bom errar um passo, voltar um pouquinho e fazer direito desta vez. a velha história de dar um pra trás e três pra frente.