terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sem fantasia

Judith,

Ouvindo você falar da concretude dos planos fiz de você melhor interlocutora do que João, que não tem falado coisa com coisa. Ele agora deu para ensaiar me dizer umas palavrinhas, mas ele sabe que eu não sou mais aquela dizedora desenfreada de antes. Ele sabe que as coisas por aqui mudaram um pouco. E se eu mando carta e ele me responde telegrama, é porque as coisas por lá são as mesmas, as mesmas, as mesmas.

Acho que você gostaria de José.
José parece ter aquilo sobre o que falávamos outro dia, aquela marca de quem sabe o que é perder e quando ganha uma coisa nova não fica delirando que é coisa que basta. Ele já descobriu que não vai bastar e não se afoba mais. Com uns olhos bem vivos, José me acompanha enquanto me acomodo no carona e fecha a porta com delicadeza, como quem termina um movimento de dança. Por falar em dança, ensaiamos uns rodopios lá na Vinícius de Moraes (só agora me dei conta da poesia que é rodopiar por aquelas ruas). Ele me conta das marcas que ganhou (nas lutas contra o rei, nas discussões com Deus) e desliza pelas aventuras que já viveu. Nem sei se foram tantas, mas gosto de pensar que sim.

José é meio estrangeiro, sabe, Judith? E posso estar bem enganada, mas acho que ele quer achar um lar. (Mas eu tenho mania de inventar as pessoas...)

Um beijo,
Maria.

Um comentário:

Nanda disse...

gosto tanto de ler essas cartas de vcs...ainda mais ao som de roberto, o rei das eternas apaixonadas, dizendo "detalhes de uma vida, histórias que contei aqui..amigos eu ganhei, saudades eu senti partindo..e às vezes eu deixei você me ver chorar sorrindo..sei tudo o que o amor é capaz de me dar, eu sei já sofri, mas não deixo de amar." isso é lindo.