sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Os perigos

Carla,
Sempre que falam de túnel, a referência que se tem é a luz - necessariamente encontrada no fim. Eu sempre me perguntei por onde se entra nos túneis. Penso que inícios e fins são muito relativos. Depende de onde estava e aonde pensa em ir. Todo fim é também início de alguma outra coisa. (Mesmo a morte, que dá início ao banquete dos vermes - mas não é disso que vou falar).
Não vejo razão para que se apavore durante esta travessia. Em um túnel, o leque de opções é restrito: voltar, parar, seguir. O que quer fazer? Eu aposto sempre na máxima de que é para frente que se anda. O medo, Carla, o medo é completamente aceitável. São muitos perigos. Clarice andava distraída por Copacabana e deparou-se com o rato. Vi, ontem, o motorista freando no cruzamento para permitir a passagem da ambulância e o de trás não sendo ágil o suficiente. Vi uma criança sofrer porque sua mãe não suportava que ela crescesse e não precisasse mais de seus cuidados. Vi um casal que jurou amor eterno diante de um impasse: persistir ou desistir. Vi uma mulher que gozava da solidão de repente se apaixonar. Vi um senhor depois de se aposentar querer ser professor. Vi um bebê quase cair do colo de seu pai. Vi um rapaz correr do amor feito o diabo corre da cruz e vi um homem viajar para longe para não encarar os fatos. Não sei se voltam.
Tem uma canção que diz que quem anda atrás de amor e paz não anda bem. Na vida, quem quer paz, amor não tem.
Seja o que for, sou mais o amor. Com paz ou sem.
Fique calma. Fique bem.
Nanda.

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