segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Beira do mar

Como se fosse verão, o sol machuca os ombros anunciando sardas. Passos apressados na areia quente, o vapor cortado pelas canelas, cheiro de milho verde e barulho de mar. Ondas diminuídas pelo píer, peixes quase raros para tristeza do pescador otimista que lançou o anzol sem notar que passava na hora uma criança em função gandula oficial do frescobol alheio. Incansável. A senhora das viseiras decidiu inovar e trouxe consigo sutiãs de todas as cores. Sem provador nem nada, desconta-se da numeração o sutiã velho sob o sutiã novo e tudo fica bem. As cores são vivas mas, na dúvida, o preto básico. No máximo listras. O casal do lado senta bem pertinho para testar a câmera naquela luz. Ele sorri e aperta o botão errado enquanto a moça mantém um bico que deve representar um beijo lançado - não se sabe bem pra quem.
Calor, muito calor. Um vento derruba as viseiras e leva o guarda-sol pra longe, um perigo. Três fazem que vão ajudar, não ajudam, e por uns minutos elaboram teorias sobre como fincar o pau na areia pra que não seja necessário segurar a sombrinha a cada rajada. Maresia. Protetor solar fator 70. Maré alta. Sede. Areia grudando em tudo, suor escorrendo na barriga. Sal. O jornal difícil de dobrar, a conversa sobre a noite anterior, o casal da farofada com um acúmulo de latas que fez a alegria do catador. 

A água com areia brinca na beira do mar
A água passa e a areia fica no lugar.

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