sexta-feira, 29 de março de 2013

do cóccix até o pescoço

Agora vou dizer alto que é para que fique claro.

Que eu estava confortável onde estava e o que faltava era o que falta pra todo mundo, coisa concreta, de cimento e tijolo. Já não achava mais que as coisas precisassem ser grandes e surpreendentes. Uma novidade a cada quinze dias e coragem pra acordar. Estava tudo ali.Que os amores eram coisas que a gente inventava pra se distrair dessa loucura que é a falta de tempo e que a solidão já não doía mais.Que novas cidades, de língua desconhecida, boas companhias eram suficientes para aguentar todo o resto.

 

Que fique claro que o amor continua inventado e que é inteiro uma ilusão. Que, apesar de iludido, vem assim despretensioso e se aloja como quem veio pra ficar. (Mas o amor nunca vem pra ficar). Que no início vai e vai e flui como se fosse o que sabe fazer. E de repente algo desanda, um desencontro sem fim, um ciúme que dói nos cotovelos, na raiz dos cabelos, gela a sola dos pés. Dói da flor da pele ao pó do osso. Rói do cóccix até o pescoço. E fim.


Nenhum comentário: