quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Feminices

Para falar dessas coisas femininas eu me ajeito aqui na cadeira antes. Cruzo as pernas, alinho a coluna e a voz que sai aqui dentro enquanto te escrevo é mais doce. Imagino que para ser feminina é necessária uma postura elegante. E quando penso feminices, é diferente de quando penso no que eu faria se não tivesse tempo para pensar. Ele dizia que eu era uma mulher de atitude. E eu vacilava aí, ficava triste de já ser mulher e não mais menina. Gostava do tempo em que ele me apertava forte e me chamava de pequena. Às vezes nem apertava, mas eu imaginava que ele assim o faria se estivesse por perto. Depois, porque já me sentia grande, vacilava quando não alcançava bem o que era ser mulher. E nos meus afazeres de adulta, queria ser vista assim, já crescida. Eu quero um filho seu, eu dizia. E se o desejo dele cruzava com o meu aí, eu estremecia e completava com "um dia...", deixando a coragem um pouquinho mais pra frente.

Para falar de coisas femininas, eu passei a me importar, sim, com as iniciativas. E passei, sim, a achar que o desejo do homem precisa parecer mais forte. E que a gente pode flutuar ali no meio, como quem por acaso pode ou não ser fisgada. E passei a acreditar que não se deve dizer tudo. Que é necessário um certo mistério nas cousas, como diria o poeta. Que receber flores não é piegas, que certas demoras atiçam a vontade e todo o resto que consta, para quem quiser conferir, no Manual n° 05 de Como ser mulher sem deixar de ser você mesma.

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