domingo, 18 de julho de 2010

Dindí

Quando ela vem até mim, eu não sei bem o que faz ali. Todos os dias chega assim: não tenho nada de novo a dizer. Então ela conta, e eu quase sei qual será a próxima frase, que seus dias passam como se não passassem. Não que não faça coisas. Ela faz. Mas ao acordar, antes mesmo de abrir os olhos, é sempre um mesmo pensamento. Ela pensa nele. E precisa pensar que ele não está mais ali para poder começar o dia na realidade. Porque se deixar, ela vai fantasiando um catatau de coisas, acrescentando palavras onde é silêncio puro, fingindo ouvir o que não foi dito, e por aí vai.

Ela ouve Bossa Nova e diz que lhe cai muito bem. Pensa em Dindí, que foi embora. Aí fica meio rouca, e eu não estou vendo seu rosto, mas ofereço um lenço porque suponho que é choro preso na garganta. Ela chora meio envergonhada, ela nunca foi de chorar assim na frente das pessoas. Aí faz um silêncio dolorido, como quem vai concluir alguma coisa, suspira e diz que nunca na vida vai entender como é que alguém pode ir embora e, ainda assim, estar ali o tempo todo.


"Se um dia você for embora me leva contigo, Dindí.
Olha, Dindí, fica, Dindí
E as águas desse rio
Onde vão, eu não sei..."

3 comentários:

Ângela disse...

Tem uma música que diz assim:

"Dor de amor quando não passa é porque o amor valeu".
O bom de ir canatando é que o tempo, ah, o tempo!, faz passar sim...
Ainda bem né mesmo??

Fernanda disse...

Concordo com tudo.
Que valeu, que é bom ir cantando e que passa.
:)
um beijo

Nanda disse...

querida,
foi muito gostoso nosso encontro na padaria..como é mesmo que a gente consegue ficar falando 4 horas sobre a mesma coisa em mil e uma versões e no final dar um suspiro e dizer até o próximo encontro..terei saudades. me diz? um beijo. a tristeza de um saber não me cala a boca nem mesmo me tira a escrita. te escrevo ainda.