terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Voo livre

Na arte de perder não há superespecialistas. Alguém que se diz expert geralmente faz uma referência à quantidade de perdas que sofreu, achando, por isso, que entende da coisa. Não consigo acreditar que por repetição fique mais fácil. Ao contrário, a cada perda o que se renova é o pavor de novas perdas e, sei bem, às vezes é possível até que se evite ganhar para não correr riscos. Para correr riscos, aliás, são necessárias habilidade e coragem - na ausência de uma, a outra precisa ser um tanto maior.
Ultimamente tenho feito parte do grupo daqueles que evitam certos riscos. Entre um pássaro na mão ou dois voando, crio versos enaltecendo a liberdade e o voo livre e defendo até o fim que fiquem todos soltos, que voem para onde quiserem, que é preciso respeitar o desejo inclusive dos pássaros e, por fim, que voltarão espontaneamente caso queiram. (Torcendo para que queiram). Ao contrário do que você pode pensar, não é mais fácil assim. Falando em perdas, deixando os pássaros todos soltos a gente também perde a chance de que o que ficou, no início por costume ou medo de partir, passe a gostar de permanecer aqui, aquecido, seguro e espiando entre os dedos. Imagine que certas espécies de pássaros dizem por aí que se você não segura firme com as duas mãos é porque você não quer tanto assim, e que não exigir que fiquem é como pedir para que vão embora. Difícil. Não há mesmo um manual para os encontros.
Nem sei do que estou falando.
Diga você, que aprendeu a mergulhar, se é de cabeça que se vai mais fundo.

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