quarta-feira, 25 de março de 2015

Hoje

Hoje acordei às sete com vizinhos festejando muito alguma coisa. Imaginei que recebiam a primeira visita na casa nova, ou alguém chegando de longe em um vôo que durou a noite toda e achando bom estar em casa. Pensei ainda que o filho caçula talvez tivesse passado no vestibular e só agora, depois de oitocentas atualizações na página da universidade o resultado saísse, com o nome inteirinho ali, na trigésima sétima colocação. Pra biologia. Era a terceira tentativa. Que sorte. Já acordada, que jeito, fui à padaria e a moça do caixa estava irritada porque era a única funcionária pontual - e nem sempre isso é reconhecido pelo patrão. A fila grande fez com que ela pensasse se tinha valido a pena sair do interior, onde deixou pai e mãe, pra passar raiva logo cedo. Não foi necessário caminhar muito para esbarrar com um senhor na faixa dos 40 se transformando em palhaço lentamente. Meia cara já estava pintada de branco e os suspensórios caídos do lado e bastões seguros nos bolsos aguardando malabares no semáforo. A cara estava metade branca, metade séria. Imaginei que pensasse nas contas pra pagar e se um conhecido respeitaria se o visse assim ou então que não importavam as contas nem as opiniões dos outros. Pensei também que nunca vi palhaço feliz. Nem triste. Em essência, não existe palhaço feliz. Em essência, nem existe palhaço.

O céu estava azul, mas era um azul claro, não sei se é sempre assim. As cores estão nos olhos de quem vê. E, pra quem não vê, as cores continuam ali, mas nos ouvidos. Aí depende de um terceiro. É azul no céu e ele na terra. Mas também não sei se não é sempre assim. 

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