domingo, 2 de novembro de 2014

O que se sabe

Judith,

Preciso te escrever para dizer que, com absoluta certeza, não sabemos mesmo de nada. Imaginamos e acreditamos no que nos for suficiente acreditar, mas jamais será a exata medida do que acontece. Antes, eu achava que tinha uma escuta aguçada e um sexto sentido forte. Bobagem, Judith. Não faz muito tempo, enfrentei um senhor que queria me fazer concordar com a geneticidade das coisas. Inventei esta palavra, geneticidade, porque não há melhor forma de dizê-lo. E, na minha ignorância, eu o enfrentei porque achava que aquele senhor estava desvalorizando as coisinhas todas nas quais eu acreditava e das quais eu falava em público. A verdade, bom, verdade é jeito de falar, a questão é que ele estava tentando se convencer de que algo mais forte que o sujeito pode determinar suas escolhas. Mas ele precisava acreditar em quem diz que sinapses são determinantes. Porque não dá pra controlar sinapses, por Deus. Falar em inconsciente era demais pra ele, porque a gente parece muito frágil se diz que o inconsciente é quem manda. Ele não podia suportar que seu filho escolhesse usar drogas. Em vez disso, pediu que eu estudasse essa coisa, que faz com que o cérebro de alguns seja mais receptivo aos efeitos da droga, e que neurotransmissores tornem a pessoa mais viciável. Eu não pude acolher a dor daquele pai. Mas eu não sabia. Um enfrentamento pode ser uma demanda. Dessa vez eu não sabia.

Nenhum comentário: