sábado, 2 de março de 2013

Acabou chorare

Judith,

Vinha andando distraída pela avenida rio branco, ou perdida no triângulo das bermudas, ou tanto faz, quando, por estar distraída, baixei a guarda, a razão e um pouco o decote. Baixei também a sobriedade com uma stella artois gelada, o que deu um pouco de coragem pra tentar o red lips da revista e um delineador difícil pra burro de acertar. Ando assim, viu, cheia de feminices. Uma vaidade meio desajeitada, uma pose divertida, uma língua que não cabe na boca - escancarando uns furos logo de cara -, só pra mostrar que vai ser assim desde sempre. Acabou o tempo de tapar buracos.

Quando acordo, logo cedo, e vejo o sol ainda baixo apontando no horizonte (e é mesmo assim que nasce o dia), mesmo na pressa, da janela do carro, não dá pra deixar de achar promissor. Ver o sol nascer é um grande privilégio. Lá pelo meio da manhã uma surpresa dessas bem pequenas e deliciosas me agita o peito. Se fosse Deus, ordenava que todo ser humano deveria, por mandamento, ser surpreendido uma ou duas vezes por dia. Nem Deus sabe como a vida seria mais bonita se fosse sempre assim. 

Acabou o tempo de fechar-se para as surpresas. Acabou o tédio. Acabou chorare, ficou tudo lindo.

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