quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Das demoras

Judith,

Eu, que tinha tudo no lugar, e não me mudavam uma vírgula, tenho me atropelado numa novidade sem fim. Antes era assim, você sabe. Nós tínhamos nosso castelo e as cartas não se moviam nunca. Ruas conhecidas, palavras à beça. A hora certa de ligar, as brincadeiras que se faz. Um jeito de tocar meu corpo sincronizadamente conhecido. Era bom, Judith. Era bom. Pra conhecer o mundo: planetário.

Mas Judith, agora é o atropelo, a novidade sem fim. Nós não temos nem as cartas! Imagine um castelo! Não temos ruas! (Palavras, ok, porque sem palavras também não dá). O outro ele vem quando menos espero. E quando espero muito, nunca vem. Telefona no meio da manhã me dizendo indecências. Diz que assim não dorme, se pensar. Examina meu corpo desordenadamente. Nomeia minhas marcas de nascênça e eu me pergunto onde é que elas estavam até agora?

Acho que ele não deve nunca saber o que vou te contar: é nas demoras que ele se presentifica.

Mas sshhh...

Um comentário:

Nathalia disse...

Shhhhhhh.... (mesmo!)